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Com contratos milionários, maiores auditorias ficam com 99% da receita


Data: 10 de agosto de 2010
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Os três maiores contratos do setor garantiram à PricewaterhouseCoopers (PwC) 69% do total de R$ 132,1 milhões que ela faturou fazendo a auditoria de 33 companhias abertas entre as 200 maiores do país em 2009. Isso dá uma ideia de como os grandes clientes são importantes nesse mercado. O Itaú Unibanco foi o que mais gastou com auditoria dos balanços no ano passado: R$ 38,7 milhões. O Bradesco aparece em segundo, com despesa de R$ 31,4 milhões, e é seguido pela mineradora Vale, que desembolsou R$ 21,1 milhões.

Petrobras, auditada pela KPMG, e Santander, pela Deloitte, completam a lista das cinco empresas abertas que mais pagaram aos auditores no ano passado.

Os dados foram obtidos com informações divulgadas pela primeira vez pelas companhias abertas brasileiras e que constam dos Formulários de Referência enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O estudo considera a soma do que as empresas pagaram pela auditoria dos balanços e também em outros serviços.

Antes da divulgação desses dados no formulário, a única informação que havia sobre a divisão do mercado de auditoria era o ranking da CVM, que mostra as maiores do setor por número de clientes, entre as mais de 500 companhias abertas do Brasil.

Os números obtidos com base nos Formulários de Referência mostram que os bancos são destaque em termos de custo de auditoria. Além de terem centenas de bilhões de reais em ativos e milhares de agências, eles ainda demandam serviços específicos por questões regulatórias ligadas à gestão de risco. Há ainda uma certa correlação entre porte e gasto com auditoria, embora haja algumas distorções.

É importante destacar que, entre as instituições financeiras, não existe mais rodízio de auditorias a cada cinco anos. Nas demais empresas abertas, sob fiscalização da CVM, a troca periódica de firmas está suspensa ao menos até o fim do processo de mudança contábil para o padrão internacional, chamado de IFRS.

Além de mostrar concentração maior entre as quatro grandes, o levantamento do Valor aponta uma configuração de mercado diferente daquela que aparece no ranking elaborado pela CVM. Enquanto a KPMG lidera o ranking oficial, com 99 clientes entre as companhias abertas, ela aparece na terceira posição na pesquisa feita pelo jornal. A maior participação de mercado entre as 200 empresas da lista do Valor está com a Deloitte, com 51 contratos. Somada com a Terco, a Ernst & Young encosta na líder, com 50 contas.

Já a PwC, líder em receita, fica no quarto lugar tanto no levantamento do jornal como no da CVM em número de clientes.

No ranking por receita, a Deloitte ficou em segundo por esse quesito, com R$ 89,4 milhões. A KPMG veio em terceiro lugar por esse critério, com R$ 74,6 milhões, mas deve ser superada pela soma da Ernst & Young (R$ 68,7 milhões) com a Terco (R$ 11,1 milhões), que alcança R$ 79,8 milhões.

Segundo Henrique Luz, sócio da PricewaterhouseCoopers, o mercado de capitais ainda incipiente no Brasil tira representatividade do ranking da CVM. "Nos EUA, das 500 maiores empresas, 99% são companhias abertas. No Brasil, das 500 maiores, só 40% são cotadas em bolsa", afirma.

Já Charles Krieck, sócio de auditoria da KPMG, que lidera o ranking da autarquia, tem outra visão. "É claro que não é coisa mais importante do mundo, porque nem todas as empresas são abertas. Mas ele é interessante porque mostra o quanto de experiência você tem nesse mercado e qual foi o crescimento nos últimos anos", afirma.

Sobre o movimento da concorrente Ernst & Young com a Terco, os dois disseram ver a transação como uma consequência da disputa pelo mercado, especialmente do segmento de pequenas e médias empresas, que eles também garantem que estão disputando. "Seria totalmente inaceitável não olhar esse segmento no Brasil emergente", diz Luz, da PwC.

Para Krieck, da KPMG, é uma visão errada achar que as quatro grandes do setor só têm clientes de grande porte. "Mais da metade dos nossos clientes são pequenas e médias", diz o executivo.
(Por Fernando Torres, de São Paulo - Valor Econômico)
 

Auditoria: Multiplicação do faturamento por cinco nos últimos anos atraiu interesse.


Antes de fechar no negócio com a Ernst & Young na semana passada, a Terco foi procurada por outras duas grandes firmas de auditoria, afirmou Mauro Terepins, presidente da Terco.

Procuradas pela reportagem, PwC e Deloitte negaram ter negociado com a Terco. A KPMG disse que não comentaria o assunto.

A forte atuação no mercado de incorporadoras imobiliárias que abriram o capital e uma ampla carteira no segmento de pequenas e médias empresas tornaram a firma cobiçada pelas rivais.

De 2004 a 2009, o faturamento da empresa saltou quase cinco vezes, de R$ 22,8 milhões para R$ 113 milhões, segundo dados da própria firma. Em número de clientes, pelo ranking da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ela saiu de praticamente zero, há dez anos, para 30 empresas em 2009, a sexta do ranking. A BDO, concorrente direta, tinha 54 clientes.

As duas formam o que é chamado de "segundo escalão" da auditoria, seguindo de longe as quatro grandes e com dificuldades para se impor ao domínio das "grifes". "Estávamos sofrendo restrições normais no mercado", afirmou Terepins, para justificar a associação.

Profissionais do setor reconhecem que existe pressão dos bancos para que seus clientes tenham os números auditados por PwC, Deloitte, E&Y ou KPMG. Isso pesa tanto na hora da concessão de empréstimos como em lançamentos de ações.

Para contra-atacar, as firmas de menor porte se especializam em clientes pequenos e médios, um segmento que ganhou importância nos últimos anos como a próxima fronteira de crescimento para as empresas de auditoria e consultoria.

Com a "migração" da Terco para o andar de cima, a BDO fica sozinha na zona intermediária do mercado. "Ainda é cedo para avaliar", disse Eduardo Pocetti, presidente da BDO. "Mas é possível que no futuro ser a única alternativa às grandes signifique uma vantagem competitiva."

O preço é a primeira coisa que vem à cabeça do cliente da Terco. Terepins admitiu que recebeu ligações com essa preocupação, mas disse que não haverá reajustes.

Um sócio de um das quatro grandes afirmou que a E&Y cobra cerca de R$ 150 a hora, comparado a R$ 100 da Terco. Segundo essa fonte, em algum momento haverá uma equalização.

O negócio da Terco com a Ernst & Young, cujas bases não foram relevadas, foi tratado como uma fusão pelas empresas.

Concorrentes ouvidos pelo Valor acreditam que houve uma aquisição, numa compra dos "passes" dos sócios atuais da Terco Grant Thornton. O valor de uma firma do setor seria equivalente ao seu faturamento, ou cerca de R$ 100 milhões, no caso da Terco.

A Terco foi fundada em 1982 por Mauro Terepins, que segue no comando da empresa desde então, e Raul Correa, que hoje é o principal sócio da Crowe Horwath RCS. O nome da Terco tem como origem os sobrenomes dos dois antigos parceiros.

Depois de ter se associado à MRI, BDO, CPA e finalmente à Grant Thornton, em 2004, a firma brasileira ganhou projeção desde que diversas de suas clientes do setor de incorporação imobiliária abriram capital na Bovespa. As três maiores do setor, PDG, Cyrela e Gafisa, são clientes da Terco. Terepins vem de uma família ligada à construção. Seu irmão gêmeo, Carlos, é o principal executivo da incorporadora Even, empresa que é auditada pela PwC.

A estratégia da Ernst & Young Terco, além do crescimento no segmento de pequenas e médias, passa também pelo reforço na área de consultoria, segundo Jorge Luiz Menegassi, principal executivo.

Depois de ter saído do segmento em 1999, com a venda de sua divisão para a Capgemini, a empresa ensaia uma volta, assim como seus concorrentes (com exceção da Deloitte, que não se desfez da sua). Desta vez, no entanto, ela ficaria no que ele chama de "transformação de processos", entre a estratégia (o que faz uma McKinsey, por exemplo) e a implementação (Accenture, entre outras).

Esta semana, a firma anuncia a aquisição da Sargas, empresa carioca de consultoria em logística e cadeia de fornecedores, com clientes em mineração, óleo, gás, e comunicação ( Fernando Torres e Nelson Niero, de São Paulo - Valor Econômico).

 

CVM acompanha à distância debate sobre concentração


A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem acompanhado as discussões que ocorrem em nível global sobre a concentração no mercado de auditoria em quatro grandes firmas, as "Big Four", especialmente por meio de um convênio com órgãos reguladores britânicos, que estão mais avançados nos estudos do tema.

Além da questão da competição, uma das preocupações que existe é o que ocorreria no mercado caso alguma das quatro - PwC, Deloitte, Ernst & Young e KPMG - deixasse de existir, como ocorreu com a Arthur Andersen há poucos anos.

Como existem regras que tratam de conflitos de interesse e impedem a contratação de determinadas firmas por algumas empresas, há o entendimento de que poderia faltar auditoria para atender todas as grandes companhias.

Segundo Alexsandro Broedel, diretor da CVM, logo após o fim do processo de convergência contábil para o IFRS, a questão da supervisão da qualidade do trabalho de auditoria será um dos focos principais da autarquia. "Vamos dar mais atenção a essa área no futuro", diz, citando a escassez de recursos para atender todas as questões ao mesmo tempo.

Em relação à concentração de mercado, Broedel ressalta que trata-se de um fenômeno global e que, por isso, qualquer proposta de regulação também tem de ser mundial. De qualquer forma, ele afirma ainda não ter uma avaliação sobre a predominância das quatro grandes do setor.

"Não sei se temos um problema e se há alguma solução", diz, lembrando que há cerca de 15 anos, quando estava na faculdade de contabilidade, os alunos queriam trabalhar em alguma das "oito grandes" do mercado.

Para Charles Krieck, sócio líder de auditoria da KPMG, a existência das "Big Four" não é um problema. "É uma opção do cliente. Existem muitos mercados em que não existem cinco ou seis opções", afirma.

Henrique Luz, sócio da auditoria PwC, também defende que a escolha seja dos clientes. "Temos um mercado livre, em que as empresas escolhem. E não tem ninguém bobo. Elas avaliam a capacidade [da firma contratada] e a conveniência para eles", afirma.

Raul Corrêa, sócio da Crowe Horwath RCS, uma firma de pequeno porte, vê a concentração de mercado como natural nos últimos anos. Para ele, ou as firmas menores de auditoria crescem ou se tornarão butiques (Fernando Torres, de São Paulo).
 
Fonte: Valor Econômico

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