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Europa analisa mudanças drásticas para auditorias


Data: 27 de setembro de 2011
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O modelo de negócios das "Big Four", as quatro maiores firmas de contabilidade do mundo, está sob ataque da Comissão Europeia, que está pressionando por regras mais duras que forçariam as firmas a abandonar seus negócios de consultoria e compartilhar o trabalho de auditoria com concorrentes menores.

Um esboço de regulamentação, ao qual o "Financial Times" teve acesso, pretende transformar o setor de contabilidade na esteira da crise financeira e restabelecer a "confiança" nas demonstrações financeiras. A proposta tem o apoio de Michel Barnier, comissário de mercado interno da União Europeia, cujos funcionários decidiram que o mundo das auditorias está sob o controle de um oligopólio.

Pelos planos, que serão anunciados em novembro, as companhias com balanços maiores que € 1 bilhão seriam forçadas a contratar dois auditores para conduzir uma "auditoria conjunta" de seus livros, incluindo pelo menos uma firma que não faça parte das Big Four (Deloitte, PwC, Ernst & Young e KPMG).

Os auditores também não poderão trabalhar para uma grande companhia por mais de nove anos - uma política de "rotatividade obrigatória" que Barnier acredita que vai reforçar a independência e estimular a competição. Algumas grandes multinacionais têm o mesmo auditor há mais de um século.

O trabalho que não envolve auditoria é descrito pela Comissão Europeia como "uma fonte de conflitos de interesses". O projeto de lei diz: "As firmas de auditoria de dimensões significativas deverão... ser [proibidas de] realizar serviços não relacionados a sua função de auditoria estatutária, como consultoria e serviços de aconselhamento".

A proibição acerta o coração do modelo de negócios dos grandes grupos de auditoria e vai além do esperado na reestruturação do setor. A auditoria é um negócio de crescimento firme, mas lento, enquanto as operações de não auditoria, incluindo consultoria, representam cerca de dois terços das receitas das Big Four no Reino Unido - as maiores das redes europeias.

Um porta-voz da Deloitte diz que as medidas "prejudicariam a qualidade das auditorias" e elevariam os custos para as empresas que usam os serviços.

As firmas da "segunda divisão", como a BDO e a Grant Thornton, há muito vêm fazendo campanhas para que as autoridades reguladoras ajudem a reduzir as barreiras de entrada no setor. Mas as Big Four conseguiram até agora evitar muitas das propostas.

Barnier terá dificuldades para conseguir a aprovação dos Estados membros da União Europeia e do Parlamento Europeu, exigida para que a regulamentação seja implementada.

A equipe de Barnier acredita que os interesses comerciais conflitantes das grandes firmas corroeram a confiança, reprimiram a competição e levaram ao ceticismo em relação à auditoria e à contabilidade.

"Os auditores têm um papel essencial nos mercados financeiros: os atores financeiros precisam poder confiar em suas declarações", disse Barnier ao "Financial Times".

Ele afirmou que suas propostas "ambiciosas" têm um objetivo principal, que é "garantir auditorias robustas e completamente independentes no contexto mais amplo de um mercado interno de funcionamento melhor para os serviços de auditoria".
 

Propostas de Bruxelas pegam as grandes empresas do setor no contrapé
 

Por Financial Times, de Londres e Bruxelas


Eles estão entre os lobistas mais silenciosamente eficientes do mundo. Raramente as "Big Four" são pegas por iniciativas reguladoras voltadas contra elas, e esse não parecia ser o caso de ontem quando as propostas de regulamentação circularam em Bruxelas, ameaçando derrubar todo o setor.

As propostas, que pegaram as firmas de contabilidade desavisadas, incluem a sugestão surpreendente de separação total dos negócios de auditoria das firmas de seus trabalhos de não auditoria. Elas também preveem uma série de outras restrições que incluem limites de tempo obrigatórios para os auditores trabalharem com uma única companhia.

Algumas iniciativas, como a rotatividade dos auditores, estão sendo ativamente consideradas em muitos países, inclusive nos Estados Unidos, mas outras, especialmente a ideia de isolar totalmente as práticas de auditoria, pegaram o setor desprevenido. Executivos importantes do setor repudiaram a portas fechadas a ideia de que tal revolução seja imposta, mas admitiram que ficaram abalados com o fato de ela ter aparecido na forma de proposta.

A ambição das propostas também convenceu alguns observadores em Bruxelas de que Michael Barnier, o comissário de mercados internos da União Europeia, está mirando alto para fortalecer sua posição de barganha nos próximos meses.

As propostas, as quais o "Financial Times" teve acesso, estão circulando na Comissão Europeia, que vai publicar uma proposta final em novembro.

A partir daí, ela vai enfrentar um desafio formidável para conseguir apoio dos Estados membros da União Europeia e do Parlamento Europeu.

Embora os bancos de investimentos estejam sendo amplamente apontados como responsáveis pela crise financeira recente, nesse período os auditores raramente estiveram numa posição secundária na lista de prioridades das autoridades reguladoras. As propostas da União Europeia marcam o mais novo estágio de um prolongado debate global, que já vinha acontecendo antes da crise financeira, sobre como os auditores deveriam operar.

Mais recentemente os reguladores aumentaram seu interesse, especialmente depois que a crise financeira revelou alguns casos que as autoridades americanas classificaram de "falta de ceticismo perturbadora" na análise das contas de clientes.

As autoridades reguladoras estão preocupadas há anos com os riscos de concentração entre as Big Four, que entre elas auditam quase todas as maiores companhias abertas do mundo. Depois do colapso da Arthur Andersen na esteira do escândalo contábil da Enron, as autoridades temem que um novo grande escândalo possa derrubar outra dessas firmas.

Jeremy Newman, presidente-executivo da BDO International, a quinta maior rede global do setor, disse ontem: "Do que entendi das propostas, estou preocupado com o alcance de algumas delas. Mas, sobre a perspectiva de que eles reconhecem que há um problema grave com a estrutura do mercado que precisa ser resolvido, isso em princípio é uma coisa boa".

A BDO e seus concorrentes da chamada segunda divisão há muito tempo vêm tentando sacudir o mercado de auditoria, para que haja uma redução das barreiras de entrada.

Algumas das Big Four têm aceitado alguns de seus pedidos, como proibir o uso de cláusulas que determinam que apenas uma das Big Four pode ser usada em certos tipos de trabalho que não seja de auditoria.

A auditoria responde por cerca de um terço das receitas dos braços britânicos das Big Four - as maiores operações de suas redes europeias e as que publicam as descrições mais detalhadas das contabilidades das empresas. (JH e AB)
 

 

Público é contra medidas, diz presidente do Ibracon
 

Por Fernando Torres | De São Paulo

As propostas de regulação do mercado de auditoria que devem ser apresentadas para discussão na União Europeia não têm respaldo nas respostas recebidas em um processo de consulta pública promovido pela própria Comissão Europeia neste ano, destaca Ana María Elorrieta, presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).

"Não existe suporte a essas ideias, seja entre acadêmicos, auditores, membros de conselhos de administração e até reguladores. Se pretendem avançar com a proposta, parece que estão ignorando as informações que receberam", afirma Ana María, com a ressalva de que não teve acesso ao esboço da proposta, que deve ser apresentada em novembro.

Ao ser questionada sobre o que levaria a Comissão Europeia a apresentar uma proposta que contraria a percepção captada durante audiência pública, a presidente do Ibracon avalia que a motivação pode ser política.

Ela fala que as entidades profissionais e os auditores estão dispostos a tomar medidas que possam melhorar a qualidade do trabalho. "Mas desconheço qualquer prova de que essas propostas contribuam para esse objetivo", diz a presidente do Ibracon, sobre as mudanças sugeridas, como restrição total a serviços de consultoria, rodízio obrigatório de firmas a cada nove anos (no Brasil o prazo é de cinco anos) e auditoria dupla para grandes empresas. "Minhas leitura é que elas não têm a efetividade que se busca."

Ana María faz questão de ressaltar também que se está falando de um rascunho de uma proposta - que ainda será levada a discussão. "É difícil fazer conjecturas sobre aquilo que não existe. A proposta formal é esperada para novembro e só então será discutida pelo parlamento europeu", diz a representante, que prevê que o processo de aprovação deve levar cerca de um ano.

A presidente do Ibracon lembra também que em 2005, quando foi discutida a atual regulamentação para as firmas de auditoria na União Europeia, houve bastante mudança entre o texto originalmente apresentado e o que foi efetivamente aprovado.
 

 
Fonte: Valor Econômico /
Por Alex Barker e Jennifer Hughes | Financial Times, de Bruxelas e Londres

 

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