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Normas globais turbinam lucro


Data: 1 de junho de 2012
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A adoção do padrão internacional de contabilidade aumentou o lucro líquido e o patrimônio das empresas brasileiras nos últimos anos. E, como já devem ter inferido os investidores e analistas mais atentos, a mudança ocorreu tanto na média como em número de casos, embora para alguns setores e empresas o efeito tenha sido contrário.

O impacto médio no lucro foi de 10% na primeira etapa de transição, a partir de 2008, e de mais 25% no segundo momento, em 2010, com a adoção completa das normas. Nos dois casos as comparações foram feitas com os balanço dos exercícios anteriores (de 2007 e 2009), que tiveram que ser reapresentados.

Em relação ao patrimônio, o efeito foi praticamente neutro no primeiro momento, e positivo em 31% na segunda etapa.

Considerando-se o processo total de migração, o impacto médio foi positivo em 36% para o lucro líquido e de 30% para o patrimônio das companhias.

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A conclusão é de estudo acadêmico liderado pela professora Edilene Santana Santos, da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-EAESP), que contou com apoio financeiro da GVPesquisa.

Para fazer a comparação do efeito completo do IFRS foi usada uma amostra com 41 empresas que divulgaram os dados de forma consistente para os dois períodos.

Na análise apenas da segunda etapa da transição, quando melhorou a qualidade das informações apresentadas, a amostra teve mais de 200 companhias.

O processo de adoção do IFRS no Brasil começou com a aprovação da Lei 11.638 nos últimos dias de 2007, que abriu o caminho para o país adotar a "língua" mais usada na contabilidade mundial, sendo obrigatória ou permitida em mais de cem países.

Já em 2008 as empresas tiveram que adotar 14 novas normas contábeis, sendo que as demais passaram a valer em 2010, garantindo então a convergência total com as normas internacionais.

Edilene já havia feito prévias de estudos sobre o processo de transição para o IFRS, que apontavam para o mesmo sentido. Agora, no trabalho final, restou comprovada a hipótese testada, de que a contabilidade brasileira antiga, baseada principalmente no custo histórico, era mais conservadora que a internacional, que dá ênfase maior ao conceito de "valor justo", em que um percentual maior dos ativos da empresa são registrados pelo seu valor de mercado.

Ao se observar a distribuição da amostra, 71% das empresas tiveram aumento de lucro, sendo que em 55% dos casos o aumento foi maior que 10%.

O percentual de empresas que registraram alta no patrimônio foi o mesmo, de 71%. Mas o aumento acima 10% teve alcance menor, em 39% das empresas.

Além do impacto total em cada etapa dos ajustes, que pode ser útil para analistas e pesquisadores no momento de se fazer comparações históricas de resultados de empresas, o estudo também decompõe o efeito de cada um dos pronunciamentos tanto no lucro quanto no patrimônio das companhias.

Não fosse o efeito do fim da amortização de ágio gerado em aquisições de companhias ou ativos, por exemplo, o impacto positivo no lucro (considerando a transição completa) líquido seria de 24%, e não de 36%.

Tanto o fim da amortização como outras mudanças previstas na norma sobre combinação de negócios tiveram impacto positivo médio de 61% no patrimônio líquido das empresas.

Outra norma que elevou o PL de forma substancial foi a que trata do ativo imobilizado. O aumento médio foi de 50%.

A norma facultou que as empresas, uma única vez, testassem o valor de seus ativos fixos - como edificações, máquinas e equipamentos - e atribuíssem um novo valor para eles, caso o custo histórico estivesse muito defasado.

Cerca de 40% das empresas decidiram atribuir esse novo custo no momento da adoção inicial do IFRS completo.

Apesar de essa ser a norma que de forma isolada afetou o balanço do maior número de empresas, o alcance foi menor que o previsto. "Sua ocorrência foi bem inferior ao que inicialmente poder-se-ia imaginar, o que poderia ser interpretado como certa timidez por parte das empresas", diz Edilene.

Um ponto relevante identificado no trabalho é que muitas empresas adotaram normas da primeira etapa apenas a partir de 2010, quando passou a ser obrigatório o IFRS completo. "Em vez de corrigir [os balanços], elas jogaram as mudanças no bolo."

Isso ocorreu, por exemplo, com a regra para pagamento baseado em ações, que passou a ser registrada como despesa, e também da capitalização de despesas no ativo diferido/intangível, cujo uso foi bem mais restrita.

 
Fonte: Valor Econômico/ Por Fernando Torres | De São Paulo
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